quarta-feira, 9 de julho de 2014

DE BARBOSA PARA BARBOSA...

100
anos se passaram mas parece
que um Barbosa (Rui)
escrevia para outro
(Joaquim):

"Sinto vergonha de
mim
por
ter sido educador de parte
deste povo,
por ter
batalhado sempre pela
justiça,
por compactuar
com a honestidade,
por primar pela verdade
e
por ver este povo já chamado
varonil
enveredar
pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de
mim
por ter feito parte de uma era
que lutou
pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter
que entregar aos meus filhos,
simples e
abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos
vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento
da verdade,
a negligência com a
família,
célula-Mater da sociedade,
a
demasiada preocupação
com o 'eu' feliz a
qualquer custo,
buscando a tal
'felicidade'
em caminhos eivados de
desrespeito
para com o seu
próximo.

Tenho vergonha de mim
pela
passividade em ouvir,
sem despejar meu
verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo
orgulho e vaidade,
a tanta falta de
humildade
para reconhecer um erro
cometido,
a tantos 'floreios' para
justificar
actos criminosos, a tanta
relutância
em esquecer a antiga posição
de
sempre 'contestar',
voltar atrás e mudar o
futuro.

Tenho vergonha de mim
pois faço
parte de um povo

que
não reconheço,
enveredando por caminhos
que
não quero percorrer...

Tenho vergonha da
minha impotência,
da minha falta de
garra,
das minhas desilusões
e do meu
cansaço.

Não tenho para onde ir
pois amo
este meu chão,
vibro ao ouvir o meu
Hino

e jamais usei a minha Bandeira
para
enxugar o meu suor
ou enrolar o meu corpo na
pecaminosa
manifestação
de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de
mim,
tenho tanta pena de ti,
povo deste
mundo!"

'De
tanto ver triunfar as
nulidades,
de tanto ver
prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a
injustiça,
de tanto ver agigantarem-se

os
poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a
desanimar da virtude,
A rir-se da honra,

a
ter vergonha de ser
honesto'.
(Rui
Barbosa - 1918)


Manifestação
de Joaquim após o

julgamento.



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