Meus
netos tiveram o privilégio de conhecer o bisavô paterno, e como todos
que o conheceram, dele não se esquecem. Meu sogro ficou conosco por
algum tempo enquanto lutava por viver; até que se rendeu e se foi,
deixando imensa saudade em todos, inclusive nos pequenos. Dia desses,
dia de tomar vacina, Malu de quatro anos pergunta ao João de seis; _”
Porque “tem” que tomar vacina?” João do alto de sua sabedoria
responde:_”Pra não ficar doente, se não tomar pode até morrer”. Depois
de alguns segundos, Malu indignada retruca: “Então porque não deram
vacina pro biso?!!!” Entendi que “Seu” Zinho continua vivo na memória e
na saudade dos bisnetos...se você quiser lições de amor, ouça as
crianças. E como nos versos de Adelia Prado;_” O que a memória ama, fica
eterno”.
De outra feita, Malu (sempre ela) me perguntou;
_”Vovó, onde está tua mãe?”Completamente desarmada, respondi o que os
adultos costumam responder pra encerrar tal assunto....mas não
com Malu....._” Minha mamãe está no céu” e ela responde:_ “ Sei....ela
morreu...... mas quando é que ela vai voltar?” Atordoada mudei de
assunto; não saberia lhe explicar que a bisa já voltou...voltou no seu
olhar curioso, na sensibilidade, nos seus olhos “de jabuticaba” e
principalmente na doçura que encanta....
Muitas vezes ouvi
minha mãe fazer uma espécie de acordo com Deus em relação aos
netos;-“Será que os verei crescer, formar, casar...?”E ela viu a maioria
deles formar, casar, e alguns lhe deram bisnetos que ela conheceu.
Prometeu à cada neta uma colcha de crochê que ela fazia muito bem,
depois de já ter feito a minha e das quatro noras ; cumpriu a promessa
como uma missão antes de partir....Quando aguardávamos o nascimento do
meu primeiro neto ela recomeçou;_ “Será que Deus permitirá que eu o
conheça?” Lamentavelmente ela partiu antes do nascimento do João, ainda
hoje tenho uma vontade irracional de contar pra ela cada graça dos meus
netos, cada pergunta “matadora” da Malu.
Percebo que
chegou minha vez de negociar com Deus para ver meus netos crescerem, se
formarem......Não sei fazer crochê, mas quero deixar pra eles o meu
melhor, o que eu gosto em mim e quero que permaneça vivo; Como Rubem
Alves; ...”desejo deixar pedaços de minha alma para os meus herdeiros. E
a minha alma é feita de poesia e música”. Quero deixar pra meus
herdeiros o que aprendi com eles;_essa imensa capacidade de amar. Quero
deixar também, humildade, compaixão, retidão, que aprendi com aquela
artesã que fazia tão bem as colchas de crochê, e que partiu à exatamente
oito anos, deixando enorme saudade.
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